Muito tem-se falado sobre o famigerado “Novo Normal” que vem se estabelecendo com a chegada de uma pandemia que assolou a humanidade neste momento. Estamos enfrentando diversos impactos e mudanças em nossa vida pessoal e profissional, no consumo, na maneira de viver, nos hábitos e nos demais aspectos da vida e dos costumes que tínhamos até então. É interessante notar que, com a  nova realidade do mundo, vem ocorrendo desconstrução de práticas e paradigmas sociais e as consequências disso para o mercado de trabalho, que vem sofrendo diversas transformações ao longo dos anos e agora estamos mais uma vez em um período de transição. 

Zygmunt Bauman retrata muito bem essas transformações ocorridas em nossa sociedade com consequências diretas no mercado de trabalho quando fala do declínio do mundo sólido no século XX, que ocorreu após conquistas tecnológicas, embates políticos e guerras. A pós-modernidade trouxe com ela a fluidez do líquido, ignorando barreiras, assumindo formas, ocupando espaços, diluindo certezas, crenças e práticas. Saímos de uma crise substancial e passamos para outra. 

As manchetes de hoje, apagam as de ontem. Estamos nos afogando em informações e famintos em sabedoria. Estamos perdendo fragmentos de informações importantes e temos dificuldade em prosseguir. Agora, nos deparamos com uma crise na saúde, gerada pelo novo “Coronavírus”.

Neste contexto, surgiram alguns questionamentos sobre o mercado de trabalho e o universo corporativo:

  • Quais as tendências para o momento atual?
  • Como a vida das pessoas tem se transformado? 
  • Como está sendo feita a gestão do espaço em casa com a adesão cada vez maior ao trabalho flexível?
  • Como as pessoas estão gerindo o horário de trabalho?
  • Como está a produtividade das pessoas?

Para responder a todas essas perguntas, a STILINGUE fez a análise nas redes sociais buscando o que vem sendo falado na internet em matérias e comentários de internautas a respeito dessas mudanças no Brasil e no mundo em decorrência do coronavírus. A pesquisa foi realizada no período de 4 de junho até 4 de julho e foram coletadas 8.580 publicações.

Dados gerais

Publicações no tempo

Imagem 1: Gráfico de Publicações no Tempo do War-Room STILINGUE

Dentro do período em que foram coletadas as publicações, pode-se observar que houveram picos de relevância, sendo o mais importante no dia 10 de junho. Os  assuntos mais relevantes neste período foram: saúde e novo espaço de trabalho.

Distribuição por canais

Dentro dos canais de distribuição, temos:

  • Twitter, 43% das publicações coletadas
  • Portais, com 25%, destaque para Olhar Digital e Sempre Update
  • Blogs, representando 11,1%, como G1 e R7

Tais dados podem configurar que as pessoas que falam sobre esse assunto sempre buscam informações em tempo real.

Distribuição por gênero

Durante o período analisado, constata-se:

  • Organizações: 36,8%
  • Homens: 34%
  • Mulheres: 28,4%

Principais publicadores

O gráfico de distribuição de gênero, aponta que as organizações tiveram 36,8% de publicações, sendo seguidas por 34% de homens e 28,4% de mulheres falando sobre o assunto. Segue abaixo, a representatividade na pesquisa, quanto às organizações.

Imagem 2: Gráfico de Duelo de Termos do War-Room STILINGUE

Confrontando conteúdos produzidos por homens e mulheres versus organizações, percebemos que os primeiros citaram mais termos como teletrabalho, escritório, pandemia, trabalho presencial.

Enquanto, as organizações falaram sobre distância, crise, pandemia, Brasil, clientes, profissionais, América Latina.

E que ambos citaram sobre home office, empresas, trabalhadores, família, tempo, dados, isolamento social, coronavírus, internet, mundo, filhos, em casa, arquitetura, dentre outros.

Temas de destaque

Imagem 3: Gráfico de Distribuição por Temas do War-Room STILINGUE

Interesse recai, principalmente, em como as empresas estão procurando se manter, como por exemplo:

  • Reduzindo custos com a entrega de espaços corporativos,
  • Ampliação do trabalho remoto até o final do ano,
  • Campanhas de adesão ao home office permanente.

Comentários negativos dizendo sobre como as empresas sairão ganhando e o trabalhador perdendo, devido a redução de custos da empresa e aumento dos custos do trabalhador. 

Alguns positivos, dizendo sobre como o trabalho em casa está sendo bem visto devido a redução de tempo no trânsito; redução de poluentes no ar e com gastos de energia. Cita ainda, sobre como o trabalho remoto está proporcionando a troca de espaços em bairros nobres, por amplos espaços fora dos grandes centros, mas em suas proximidades, havendo uma maior valorização de tais locais.

Trabalho Remoto x Home Office

Imagem 4: Gráfico de Distribuição por Termos do War-Room STILINGUE

Em relação à distribuição por termos, o home office e o trabalho remoto foram os mais citados, o que ocorreu em decorrência da necessidade do isolamento social.

Em menor volume, comparativamente, a diminuição no uso do termo “escritório” pode indicar uma grande alta do trabalho remoto em consequência dessa nova realidade em que se vive.

Home Office x Workplace

Imagem 5: Gráfico de Duelo de Termos do War-Room STILINGUE

Dentre os termos que ganharam mais destaque no campo home office estão termos como trabalho, trabalho remoto, saúde pública, adoção do trabalho remoto.

Enquanto o campo workplace aponta para termos como ciência e tecnologia, pacote office, construtora, corretor.

E a pandemia?

Imagem 6: Gráfico de Evolução Temporal do War-Room STILINGUE

Fizemos uma busca textual do termo “pandemia” em comparação ao termo “pós pandemia”.

Nele encontramos o gráfico acima que aponta que houve um pico no dia 30 de junho.

Nesse dia, o Mundo RH falou sobre como o home office traz uma ideia de maior liberdade para o trabalhador, podendo esse trabalhar estar tanto no campo, quanto na praia ou em sua residência onde quer que seja. E para as empresas, foi positiva na redução de gastos com aluguel de imóveis, água, luz e demais custos. Positivo ainda para o trabalhador que não perderá tempo no percurso casa/trabalho e vice-versa, e também por se sentirem mais felizes em seus lares juntamente com suas famílias.

Pensando em um futuro próximo, cabe o questionamento sobre como as pessoas irão lidar em um cenário no qual não haverá muito contato físico nos espaços de trabalho e a utilização dos mesmos como locais de encontro e de fomento de conexões para fortalecimento de laços interpessoais ao invés de locais de trabalho de concentração. 

As empresas estão preparadas para a nova realidade? Segundo uma notícia do Grupo Gestão RH,  apesar de pequena adesão aos recursos digitais nos RHs das empresas, a tendência é a transformação digital e a utilização da inteligência artificial. A Apólice Notícias apresenta que no pós pandemia devem ser analisadas as perdas das empresas no quesito de exposição de dados corporativos. Cita ainda que o trabalho remoto coloca em xeque os sistemas de dados, empresas e cidadãos. Outra tendência citada pela VejaSP, é o esvaziamento das grandes torres da Faria Lima (pólo corporativo da cidade de São Paulo) pelas empresas de tecnologia e a adesão às idéias da XP em construir no interior do estado. Mas, mesmo com tudo que é falado pelas mídias, não se tem certeza de qual será a realidade no pós pandemia. O que podemos ter certeza é de que as empresas de tecnologia sairão com mais habilidades devido ao desenvolvimento impulsionado pelo momento atual.

Narrativas gerais

Imagem 7: Gráfico de Termos Correlacionados no War-Room STILINGUE

Pode-se verificar que grande parte das publicações falam sobre quanto tempo irá durar o home office, quando a pandemia irá passar, sobre saudades do trabalho presencial e idéias para criar um ambiente de trabalho mais adequado em casa.

Alguns termos receberam mais destaque ainda com o símbolo em chamas, mostrando que estavam em alta no período, tais como “profissionais” e “novo normal”. Estas publicações destacam buscas sobre como conciliar estresse de uma equipe e como se manter produtivo durante o home office.

Tema 1: Saúde

A saúde se tornou um tema bastante discutido desde o início da pandemia, seja pelo fato de haver dificuldades para as pessoas se exercitarem por causa do isolamento social ou mesmo pela saúde mental ter se tornado um ponto crucial para que as pessoas se adaptem ao home office. Com este novo formato de trabalho, há uma dificuldade maior em administrar horários e atividades. 

Imagem 8: Gráfico de Termos Correlacionados do War-Room STILINGUE

Observa-se que as pessoas estão falando sobre a saúde mental, e até mesmo a Síndrome de Burnout foi citada.

Muitas pessoas passaram a questionar as longas horas de trabalho, além do habitual. Isto se torna complexo, porque faz com que se permaneça sentado por períodos prolongados e, às vezes, sem nem mesmo uma cadeira adequada ou mesa na altura e profundidade ideal. 

A luminosidade também é outro fator importante, podendo causar danos à retina ou problemas cognitivos. Outro fator relevante é o contexto casa/ trabalho. Muitas pessoas têm dificuldades de trabalhar em casa devido a proximidade com familiares e interrupções constantes, causando estresse.

Imagem 9: Gráfico de Termos Relacionados do War-Room STILINGUE

Neste cenário, as organizações são as que mais se posicionam frente às mudanças impostas pelo isolamento social e buscando meios para minimizar os impactos que seus colaboradores possam ter sofrido (74%).

Tema 2: Novo Normal / Tendências

Quando observado separadamente, o tema “novo normal” foi considerado positivo pelos seus publicadores (49%).

Esse dado pode inferir que quando visto como uma tendência, a aplicação do teletrabalho é bem vista pelas pessoas, o que pode acarretar em uma implementação deste modelo de forma definitiva por diversas organizações.

Dentre algumas tendências observadas, pode-se destacar a necessidade das empresas em rever alguns conceitos para que os colaboradores tenham tanto segurança, quanto melhores resultados. 

Uma pesquisa realizada pelo Grupo Adecco, uma das principais empresas de recursos humanos no mundo, divulgou o resultado de uma pesquisa que mostra que os trabalhadores estão mais dispostos a assumir o modelo “híbrido” como ideal, onde o colaborador adotaria um modelo 50/50, ficando metade do tempo em trabalho remoto e a outra metade em espaços físicos da empresa.

Outro ponto analisado, foi em relação ao fim do contrato de trabalho com a delimitação de horas trabalhadas, ou seja, o colaborador passará a realizar  suas atividades baseando-se em metas e resultados e não mais em um horário fixo,  sendo assim, a rotina de trabalho passa a ser completamente flexível e assíncrona, exigindo adaptação de líderes e liderados, e a implementação dessa nova cultura dentro da empresa. 

Voltado para o mercado brasileiro, uma pesquisa realizada pela Deloitte que observou 662 empresas, percebeu que 24% delas utilizava o modelo de teletrabalho ou condições mais flexíveis antes da pandemia. No mês de junho, empresas que adotavam ou pretendiam adotar esse modelo passou para 98%.

O Monitor Mercantil, em 6 de junho de 2020, cita que, de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), mais de 20 milhões de brasileiros podem vir a trabalhar de casa, perfazendo um total de 22,7% das ocupações existentes no país. A Universidade de Chicago elaborou um ranking de 86 países, sendo a metodologia replicada pelo IPEA, no qual, de acordo com os dados, coloca o Brasil em 45° em potencial para teletrabalho no mundo, e na América Latina, 2° lugar, com 53,4% dos empregados.

O caderno “Economia” do G1 cita como a pandemia provocou importantes mudanças no trabalho, acelerando tendências. As relações de trabalho foram alteradas de forma que se priorizou a segurança e a saúde. Para tal, foi adotado o estilo de trabalho remoto, que já vinha acontecendo de forma gradual.

Outra tendência importante, segundo Instituto Milenium, é o pagamento de funcionários via digital, o que aumenta a necessidade de combater fraudes e investir em cibersegurança, Big Data e Inteligência Artificial que passam nesse contexto a ter maior valor e serem cada vez mais utilizados. Profissionais com maior assertividade em dados e decisões, passam a ter maior valor. 

Tema 3: Produtividade

Após o início da pandemia, houve uma ressignificação das empresas. O Instituto Milenium fala sobre os impactos das mudanças tecnológicas na Revista Exame. Wagner Vargas, cientista de dados, diz que várias transformações ocorreram, trazendo novo formato. Segundo ele, o home office que antes era em menor escala,  teve boa aceitação, trazendo menores custos para as empresas e aumentando a produtividade.

Corroborando a estes fatos, uma pesquisa da Robert Half RH observou que o trabalho remoto agrada cerca de 86% dos profissionais e que 67% percebeu que seu trabalho pode ser realizado remotamente. Esses pontos acentuam a questão sobre a produtividade, visto que ela não foi afetada negativamente em decorrência da adesão ao trabalho remoto.

É possível afirmar essa hipótese observando as ações que algumas empresas têm tomado, como aderir ao home office até o final de 2020, por exemplo, para incentivar o isolamento e a segurança de seus funcionários. E empresas como o Twitter e o Facebook já definiram que o modelo de trabalho remoto será definitivo.

Segundo Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, inicialmente houve uma pequena queda de produtividade no home office devido às diferenças de cada pessoa. Alguns colaboradores necessitaram de ajuda para se conectarem. Isto porque, além da convivência com a família e crianças, há também ajustes necessários ao trabalho em casa. Apesar dos ajustes, as pessoas procuraram manter suas rotinas, ficar mais focadas e com isso, trabalharam mais. A volta da empresa deverá ser feita com distanciamento social, o que talvez impacte mais que o próprio trabalho remoto. 

Imagem 10: Gráfico de Distribuição por Sentimentos do War-Room STILINGUE

É possível observar, que de maneira geral, a produtividade tem sido um assunto positivo nas mídias (70%). Mesmo que as pessoas tenham que se adaptar a um modelo que anteriormente não era tão usual no mercado de trabalho, de maneira geral, o resultado tem se mostrado otimista.

A matriz comparativa acima demonstra que a produtividade não foi um fator afetado negativamente pelo home office, pelo contrário, a produtividade pode ter sido até aumentada em decorrência do trabalho remoto. 

A não existência do tempo de deslocamento aos escritórios pode ser considerado um ponto importante para um aumento da produtividade, visto que os colaboradores não precisam passar muito tempo no trânsito antes de iniciarem suas atividades. Outro fator que impacta, é a flexibilização do horário de trabalho. Isso se deve ao fato de que as pessoas têm uma maior liberdade em suas casas para construir sua rotina, podendo assim otimizar seus horários sendo, eles mesmos, gestores de seu próprio tempo.

Conclusão

Concluindo a análise dos dados, foi possível identificar que uma grande mudança leva a outras inúmeras mudanças. Novas tendências tanto para os espaços de trabalho quanto para as relações entre as pessoas. As consequências do coronavírus farão com que os espaços de trabalho sejam repensados para que as pessoas possam fazer do antigo local de trabalho um ponto de encontro, um local de conexão e de construção de laços interpessoais tão importantes para criação de empatia e sentimento de cooperação entre os colegas de trabalho.

O espaço familiar passou a ter um significado diferente. Antes, as pessoas buscavam espaços cada vez mais compactos para que pudessem custear o preço do metro quadrado o mais próximo possível do local de trabalho. E isso fazia sentido, já que a moradia era mais um local dormitório, pois a maior parte das atividades eram feitas fora de casa. Agora, com a adição da atividade laboral dentro do espaço doméstico, o olhar para tal espaço modificou-se, e iniciou-se um movimento contrário: o metro quadrado dentro dos grandes centros urbanos passará por um processo de desvalorização e, em contrapartida, imóveis mais amplos aos arredores dos grandes centros, passarão a ser mais valorizados, assistiremos, portanto, ao êxodo urbano: a população irá preferir residências mais amplas e afastadas do tumulto e barulho das metrópoles e buscará mais qualidade de vida nas cidades do interior. 

A metrópole, portanto, tende a desinchar-se e isso faz com que tenhamos ganhos em mobilidade urbana e redução da poluição. Além disso, houve um significativo impacto no segmento de recrutamento e seleção de talentos, pois será cada vez mais possível e viável trabalhar remotamente de qualquer lugar do mundo, permitindo, assim, a busca de talentos em locais mais longínquos. Ou seja, o cidadão capacitado que antes deixava seu local de origem para trabalhar na “cidade grande”, tende a permanecer em sua cidade natal, propiciando o desenvolvimento também dessas cidades e não somente das grandes metrópoles, como antes. 

E, tendo todo esse contexto em mente, algumas empresas já iniciaram o processo mudança de estratégia de espaço corporativo. A XP, por exemplo, decidiu construir um campus/sede, no interior de São Paulo, já batizada de XP Villa, no qual comporta escritórios e experiência para o cliente como anfiteatro, heliponto e hotel. A pretensão da empresa é manter o home office após a pandemia.

Dentre os pontos levantados acima, é interessante perceber também que a relação entre colaboradores e o espaço físico da empresa não ocorrerá mais da mesma maneira. Isso acontecerá porque os escritórios, que antes eram espaços pensados de acordo com as atividades da empresa, passarão a ser locais pensados tendo como foco principal o comportamento dos colaboradores, colocando as pessoas no centro. Por isso, a tendência é que os escritórios propriamente ditos sejam substituídos por community centers, locais onde os colaboradores poderão trocar idéias, vivenciar experiências, realizar treinamentos, reuniões com clientes, e construir relações e conexões interpessoais. 

O time de Facilities da STILINGUE

O Time de Facilities da STILINGUE Inteligência Artificial definiu como objetivo para esta pesquisa a busca por insights a respeito das tendências do mercado de trabalho e do universo corporativo no momento pós pandêmico, analisando dados, lacunas e oportunidades que podem favorecer a reflexão e debate sobre o tema.